Se vc tem enjôo de comentários piegas e cheios de esperança, por favor não leia esse e espere o próximo. "
Peões", do Eduardo Coutinho, e "
Entreatos", do João Moreira Salles, vistos no mesmo dia, depois de 4 meses longe do Brasil, provocaram (além de muuuuitas lágrimas) aquela sensação de certeza de que realmente o nosso país é o melhor do mundo.
Eu e Iracema fomos para Oxford ver os dois filmes. Evento organizado pelo
Centro para Estudos Brasileiros da Universidade de Oxford. A apresentação foi feita pelo próprio Leslie Bethell, diretor da instituição e um dos brasilianistas mais respeitados do mundo. Ele falou que aquela estava sendo a primeira exibição de ambos os filmes no exterior e agradeceu especialmente ao João Moreira Salles por "se preocupar em correr com a legendagem para o público que ali não falava português".
Na platéia, todas as figurinhas fáceis (no bom sentido) nos eventos de Brasil/América Latina. Fiona Macaulay, especialista em Brasil do Institute for the Study of the Americas (onde eu estudo) e pesquisadora do Centro para Estudos Brasileiros da Universidade de Oxford,
Emily Morris, analista de Brasil da Economist Inteligence Unit, a editora do
Latin American Bureau que eu não lembro o nome...
O primeiro dos dois foi "Peões". Chorei do início ao fim e deu um alívio quando vi a Iracema discretamente enxugando as lágrimas também. Brasileiros têm que controlar a emoção deste lado do Atlântico, mas aquilo ali foi demais. O que é aquela cena do "Verás que um filho seu não foge a luta", meu Deus? Isso que é povo!
No intervalo, o Leslie Bethell, com um sorriso no rosto, ficou em pé, num dos corredores e perguntou pra algumas pessoas o que tinham achado do filme. O auditório era pequeno e dava pra ouvir as conversas. Todos os ingleses encantados com o Brasil falavam com entusiasmo da esperança daquelas pessoas.
"Entreatos" também é impressionante. A versão para o público estrangeiro vem com um prólogo para localizar os que não conhecem o passado do Lula. Aquela imagem do líder metalúrgico parado, pensativo, fumando poucos segundos antes de um discurso no ABC (do filme do Coutinho) é usada pelo João Moreira Salles nessa parte.
O Lula de hoje fala coisas como "Muitas vezes vc pode estar falando uma coisa linda, mas que só vc está gostando", fazendo a platéia gargalhar, e se preocupa absurdamente com o nó da gravata, como frisou o Leslie Bethell antes da exibição. Passei a odiar mais o José Dirceu, mas, tenho que reconhecer, me comoveu o choro do Palocci na confirmação da vitória. O marqueteiro preso em briga de galo e o filho do Lula que levou os amigos para férias no Alvorada me fizeram torcer o nariz. Mas gostei desse Lula menos herói, abraçando os funcionários do hotel logo que foi anunciado como o futuro presidente. E até aquele egocentrismo dele, na cena longa em que ele fala do Walessa no avião, me despertou simpatia.
É isso aí. Sentadas numa padariazinha logo depois da maratona Lula/PT, ficamos nos perguntando por que o PT do Rio é tão ruim. Falta de lutas sindicais como as do ABC no passado? Boicote do PT paulista? O que será? Se ainda não tivesse um tema pra dissertação, seria esse o escolhido!

Iracema e eu em Oxford, antes dos filmes